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Liderança, comando e escolha intelectual

Liderança, comando e escolha intelectual

Em uma canção conhecida no cenário internacional e denominada "Nevermind", o autor Leonardo Cohen canta: "Our law of peace / Which understands / A husband leads / A wife commands". Seu sentido em português é "Nossas normas sociais / entendem / Um marido lidera / Uma esposa comanda".

Talvez reflexivamente você tenha discordado do posicionamento com o seguinte questionando "Por que o homem lidera? Por que não a mulher?" e julgado o autor tendencioso.

Mas calma! "Marido" e "Esposa" são arquétipos, ou modelos de comportamentos que se encontram profundamente arraigados na cultura. Por representarem modelos comportamentais, não apresentam conotação com gênero. Embora em português a palavra "marido" seja masculina e "esposa" feminina, esta é uma questão de estrutura da linguagem pois, como pode ser percebido, no verso em sua versão original existe uma única preposição ligada às duas palavras e é neutra (A husband / A wife).

Independente de questões culturais, o interesse aqui é nas características dos arquétipos, quais sejam a liderança e o comando com previsibilidade nos resultados. Essas características adquirem sentido e riqueza extraordinárias no mundo contemporâneo, como discutiremos a seguir.

Para entendermos objetivamente a diferença conceitual entre liderança e comando, imaginemos o seguinte cenário: João e Maria desenvolvem atividades conjuntas na mesma empresa e têm prazos precisos para as entregas. Os traços psicológicos de João focam a ação, o movimento, o "fazer". Já Maria prioriza o domínio das particularidades que, bem planejadas, permitem o melhor dos resultados para suas execuções. Ela é uma teórica e perfeccionista. Ambos possuem senso de responsabilidade e procuram atender as expectativas do cliente, mas entram em atrito frequentemente devido às suas concepções divergentes sobre o "certo".

O chefe de ambos é uma pessoa pragmática: entende que prazos devem ser cumpridos e que questões subjetivas, como os traços psicológicos de João e Maria, ou características gerais e estáveis da personalidade que guiam sistematicamente os comportamentos, não podem interferir na qualidade e no cronograma de trabalho.

Este chefe comanda, mas não lidera. Comanda porque emite diretrizes e foca os resultados, sem preocupação pela otimização na utilização dos talentos que tem a seu dispor. Fosse ele um líder, valorizaria e saberia como harmonizar as características pessoais de João e Maria. Incentivaria a harmonização das características individuais com as responsabilidades profissionais e concentraria o planejamento minucioso sob responsabilidade de Maria e a execução do planejado sob responsabilidade de João, mas com um elemento adicional: João, pela verificação empírica, apontaria possíveis falhas no planejamento de Maria e esta, pela validação regular, identificaria possíveis falhas na implementação do trabalho de João, evitando eventuais retrabalhos.

O chefe é um conteúdo para o arquétipo com característica de comando. As habilidades do chefe podem ser estimuladas e racionalmente treinadas para desenvolvimento, pois existem regras e sequencias claras que conduzem à sua implementação com sucesso. As abordagens atuais sobre governança corporativa, como COBIT, CMMI, ITIL, ISO e PMBOK são, essencialmente, modelos de comando. Suas regras objetivam resultados precisos, embora requeiram algo que o arquétipo não menciona, que são ambientes estáveis e disponibilidades de recursos. Mas o quê importa aqui é a ideia geral, abstrata.

O líder possui os atributos de comando, mas alia a estes uma escolha pessoal essencial, que é o altíssimo nível de desenvolvimento intelectual, ou cognitivo. Líderes percebem claramente que o desenvolvimento da inteligência pode ser estimulado, mas depende primordialmente da dedicação, esforço e visão de mundo pessoal. Ser líder é uma escolha em que o aprendizado não é concebido como relação dual entre sujeito e conhecimento; pelo contrário, é um processo de transformação em que o sujeito "luta" com o conhecimento para deste apropriar-se pela transformação de suas estruturas neurológicas e internalizá-lo como Saber. Ao transformar o conhecimento em saber, o sujeito modifica seus traços psicológicos e reinventa-se enquanto pessoa. O Conhecimento é significado; o Saber é sentido.

Existe um outro elemento de natureza social que integra a personalidade de um líder. Ele não analisa contextos unicamente por seu ponto de vista particular. Ele desenvolve constantemente a habilidade de focar cenários pelas crenças daqueles que estão com eles envolvidos na atividade profissional, pois sabe que, nesse cenário, a experiência é, necessariamente, de natureza coletiva. Este comportamento é tão importante que, diferentemente do Brasil, muitos países incluem o serviço voluntário nos currículos educacionais com o objetivo de compartilhamento de percepções sociais.

Exemplos atuais de líderes podem ser encontrados no mundo dos negócios, em muitas empresas de influência global. São pessoas que, por suas concepções de mundo, não se intimidaram com desafios e construíram organizações com sólidas reputações.

Também encontramos organizações que, com eficientes modelos de comandos e em ambientes propícios, se desenvolveram e são economicamente eficientes.

Qual, então, a diferença entre uma empresa que repousa na liderança e outra que repousa na efetividade do comando? Fundamentalmente, a abundância dos recursos disponíveis e na "amigabilidade" do ambiente para o empreendedorismo.

Em países como o Brasil, em que iniciativas são altamente dependentes das habilidades dos empreendedores em superar a falta de recursos disponíveis e conviver com alta incidência de obstáculos, a liderança é escolha e desafio, talvez aquele mais prontamente acessível para uma carreira de sucesso por ser o desenvolvimento intelectual potencialidade de todo ser humano. No ambiente educacional, deveria ser elevada à condição de recurso humano imprescindível à geração de oportunidades que alterem os rumos de situações julgadas insuficientes para o bem estar social. Pense nisso e, talvez, você venha a tomar a decisão de reinventar-se como líder.