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Modelagem e estratégias

Modelagem e estratégias

É domínio público que o Brasil enfrenta uma crise. Mas, qual tipo de crise? Ou, formulando uma questão que permita uma resposta precisa, o quê é uma crise?

Em primeiro lugar, a palavra crise é polissêmica, com sentidos associados a contextos específicos. Qualquer dicionário indicará a pertinência da afirmação. Via de regra, tem o sentido de desequilíbrio em situação que se supunha equilibrada.

Em segundo lugar, para análise racional da crise e proposta de estratégia que a solucione, urge especificar precisamente seu ambiente. Ora, o mais das vezes dá-se o ambiente por conhecido, algo que não corresponde à realidade dos fatos. Além do que, para que a razão ou razões da crise sejam estruturalmente apontadas e analisadas, as variáveis que compõem o contexto e suas relações mútuas requerem entendimento adequado para que a estratégia apresentada não seja paliativa.

Em terceiro lugar, no Brasil parece que não temos o hábito de configurar cenários, ou modelar contextos, embora seja uma atividade importantíssima que fundamenta os atuais métodos de planejamento, regulação e controle da atividade econômica. O conceito de BPM (Business Process Management), por exemplo, requer para sua plena eficácia a modelagem adequada do ambiente em que será desenvolvido. Por isso, no contexto macroeconômico brasileiro, adotamos a ideia que as crises são ameaças não bloqueadas pelo gerenciamento nulo ou ineficaz de nossas vulnerabilidades.

A modelagem é a representação abstrata e simplificada de um ambiente em que os padrões (ou regularidades) significativos atribuídas a fatos, ações e comportamentos estão presentes e permitem a geração de estratégias e previsibilidade de resultados. A simplificação decorre da complexidade inerente a qualquer ambiente real e por ela abstraem-se as relações supostas irrelevantes para os objetivos propostos. Por ser representação aproximada da realidade e até atingir estabilidade, o modelo requer regular confrontação com fatos e reavaliação de adequação quando intervenções nele previstos não encontram congruência com a realidade ou não fornecem explicações razoáveis para os fenômenos observados.

A atividade inicial de uma modelagem é explicitar objetivos e requisitos, ou condições que necessariamente devem ser satisfeitas como seu produto. Nesse processo, os dados disponíveis devem ser identificados e, com base neles, ser possível a representação de ações (escolhas) e correspondentes consequências.

A título de exemplo, modelaremos de modo bastante simples uma atividade comum no cotidiano das pessoas, como o interesse em aprender inglês. Talvez você pergunte: "Por que modelar o estudo de inglês? Não basta procurar uma escola idônea e de fácil acesso, matricular-se e frequentar as aulas?". Para lhe responder, analisemos conceitualmente o problema e identifiquemos as escolhas disponíveis.

1) Qual o nível de conhecimento do inglês? Nulo, básico, intermediário, avançado?

2) Qual o objetivo principal em aprender inglês? Leitura, escrita, fluência na língua?

3) Quais as disponibilidades para frequência às aulas e estudos? Somente finais de semanas, à noite após o trabalho, durante o dia?

4) Qual o orçamento para investimento? Adequado para um curso considerado top, intermediário, reduzido?

As respostas servirão para delinear "casos de uso", que são modelagens de situações que permitem tomadas de decisões. Todos os "casos de uso" integram o ambiente.

Primeiro caso de uso: Resposta para a primeira pergunta: conhecimento nulo.

A resposta para a segunda questão é irrelevante, pois o procedimento inicial é aprender a leitura e escrita de expressões e estruturas básicas da língua. As questões 3 e 4 dependerão de suas preferências no médio ou longo prazo.

Uma opção atual é a participação em um curso online, de menor custo e alguns com excelente padrão de qualidade, além de permitir a autoadministração do tempo de estudo. Neste cenário, deverá ser analisado o padrão de disciplina pessoal para engajar-se nos estudos, fato que possibilita um outro questionamento interessante: se a construção do conhecimento é algo primordialmente subjetivo, qual a influência efetiva do estudo presencial ou online em conteúdos elementares e com respostas para dúvidas amplamente disponibilizadas? Eis uma contribuição valiosa da modelagem: permite não apenas a representação do ambiente, mas também a identificação das habilidades de quem modela e destaca, em ambientes profissionais, a importância do trabalho em equipe.

Segundo caso de uso: Resposta para a primeira pergunta é nível intermediário ou avançado e a segunda resposta é "fluência".

A disponibilidade apenas para estudos em finais de semana reduz bastante as chances de sucesso, pois fluência em uma língua estrangeira significa "viver a cultura da língua", com suas expressões, modismos, valores socialmente compartilhados e visões de mundo.

A instituição de ensino desempenha papel relevante e implica disponibilidade adequada de recursos. Escolas com professores nativos ou que viveram alguns anos em países de língua inglesa são essenciais para a riqueza do aprendizado em detrimento de professores que ensinam uma espécie de "inglês do Brasil", caracterizado pela pronúncia e estrutura linguística "contaminados" pelo Português.

Outros "casos de usos" poderiam ser descritos, mas o texto se tornaria por demais longo e os citados fornecem uma ideia da aplicação da modelagem e da tomada de decisão racionalmente justificada.

Finalizando, embora presente em todas as esferas do conhecimento científico, a modelagem é importante disciplina da Tecnologia da Informação e é nela que se encontra enorme gama de softwares de modelagem, mas seu paradigma a extrapola. O mercado globalizado exige novos comportamentos e atitudes para o gerenciamento das atividades profissionais, seja em um plano de negócios para um novo empreendimento ou mesmo no estabelecimento de metas e planejamento de carreiras profissionais. A modelagem atende essas necessidade e serve, ainda, como estratégia para treino da inteligência, de forma que quando, confrontados com "crises", saibamos como analisá-las estruturalmente e desenvolver estratégias racionais.